Três nuvens pairam sobre o futuro da humanidade.
A primeira é a assustadora nuvem ecológica, que ameaça destruir a frágil rede que sustém a vida no planeta. Os cenários para o futuro são ameaçadores, com pequenas discordâncias quanto à data da tragédia. Estamos ameaçados por um desastre anunciado, resultado do projeto civilizatório que nós mesmos escolhemos.
Depois de quatro décadas de avisos, desde a reunião do Clube de Roma em 1972, o mundo vem vivendo os sintomas do aquecimento global e do clima caótico. Agora, os futurologistas não mais adivinharão o futuro: ele chegou. Seus efeitos são visíveis, suas causas conhecidas e sua evolução previsivelmente catastrófica.
Se mantivermos o mesmo rumo, logo a agricultura estará desarticulada, a água escassa, as cidades baixas ao nível do mar serão cobertas, a economia encolherá, o desemprego será geral, a qualidade de vida cairá dramaticamente, o patrimônio da civilização sofrerá um forte retrocesso.
A segunda é nuvem da divisão social da humanidade em duas partes distintas. Depois de milênios caminhando para o fortalecimento da semelhança entre seres humanos, de séculos construindo o respeito mútuo, e de décadas sonhando com utopias igualitárias, a humanidade está dando passos atrás.
Além de assistir ao aquecimento global, a atual geração vê ampliar-se a brecha social que divide a humanidade em duas. A qualidade de vida, que desde sempre foi diferenciada entre a parcela rica e a pobre, se distanciou ainda mais no século XX. E agora, graças aos novos recursos científicos e tecnológicos, já se percebe que uns poucos seres humanos vivem mais, são mais fortes, saudáveis e inteligentes do que a grande maioria.
Até recentemente, se acreditava que esses benefícios se distribuiriam para os atualmente excluídos. Sabe-se agora que os limites ecológicos e a violência entre excluídos e incluídos levarão a um estranhamento que se transformará em dessemelhança nas características biológicas, mentais e culturais. Será uma separação muito mais dramática do que o apartheid racial ou social, será uma ruptura na semelhança, uma evolução biológica produzida pelas maravilhas da técnica e para horror da ética.
A terceira nuvem é o trágico fracasso intelectual em formular alternativas aos rumos do projeto civilizatório. Depois de termos confiado na democracia e no estado para a condução da utopia, percebemos que o estado é autoritário e a democracia é incapaz de combinar as exigências do mundo global com as demandas isoladas de cada nação.
Os avisos dos redatores do Clube de Roma foram recusados pelo pensamento liberal de direita, que dizia que o mercado teria a solução, e pelo pensamento intervencionista da esquerda, que dizia que a inteligência técnica e política venceriam. A direita desprezava os avisos de crise ecológica, a esquerda via neles uma conspiração contra os países pobres.
Quando a catástrofe chegou, os pensadores ficam mudos. Ainda mais porque os liberais perceberam que o resultado de sua utopia e da extrema riqueza convive com um Gulag Social de prisioneiros – recusados nas fronteiras, pobres abandonados à própria sorte, desempregados, doentes sem atendimento, crianças desnutridas, mães sem leite para os filhos – e os esquerdistas percebem que, ao lado do fracasso das experiências socialistas e da vitória homérica do capitalismo, as bases do seu pensamento estão fracassando.
Nesse quadro, a história caminha e conduz a um desastre. Como se adiante houvesse a ameaça de um grande meteoro, produzido pela própria humanidade, pronto a explodir. O primeiro passo para vencer as ameaças é superar a falta de uma proposta intelectual capaz de enfrentar as outras duas tragédias. O segundo passo é desenhar uma nova utopia, e as bases para uma nova revolução. Mas os intelectuais perplexos e acomodados não oferecem propostas, e os militantes acomodados abandonaram as bandeiras.
Esta é a pior das nuvens: a nuvem seca, que não chove, e encobre silenciosamente qualquer alternativa.
A primeira é a assustadora nuvem ecológica, que ameaça destruir a frágil rede que sustém a vida no planeta. Os cenários para o futuro são ameaçadores, com pequenas discordâncias quanto à data da tragédia. Estamos ameaçados por um desastre anunciado, resultado do projeto civilizatório que nós mesmos escolhemos.
Depois de quatro décadas de avisos, desde a reunião do Clube de Roma em 1972, o mundo vem vivendo os sintomas do aquecimento global e do clima caótico. Agora, os futurologistas não mais adivinharão o futuro: ele chegou. Seus efeitos são visíveis, suas causas conhecidas e sua evolução previsivelmente catastrófica.
Se mantivermos o mesmo rumo, logo a agricultura estará desarticulada, a água escassa, as cidades baixas ao nível do mar serão cobertas, a economia encolherá, o desemprego será geral, a qualidade de vida cairá dramaticamente, o patrimônio da civilização sofrerá um forte retrocesso.
A segunda é nuvem da divisão social da humanidade em duas partes distintas. Depois de milênios caminhando para o fortalecimento da semelhança entre seres humanos, de séculos construindo o respeito mútuo, e de décadas sonhando com utopias igualitárias, a humanidade está dando passos atrás.
Além de assistir ao aquecimento global, a atual geração vê ampliar-se a brecha social que divide a humanidade em duas. A qualidade de vida, que desde sempre foi diferenciada entre a parcela rica e a pobre, se distanciou ainda mais no século XX. E agora, graças aos novos recursos científicos e tecnológicos, já se percebe que uns poucos seres humanos vivem mais, são mais fortes, saudáveis e inteligentes do que a grande maioria.
Até recentemente, se acreditava que esses benefícios se distribuiriam para os atualmente excluídos. Sabe-se agora que os limites ecológicos e a violência entre excluídos e incluídos levarão a um estranhamento que se transformará em dessemelhança nas características biológicas, mentais e culturais. Será uma separação muito mais dramática do que o apartheid racial ou social, será uma ruptura na semelhança, uma evolução biológica produzida pelas maravilhas da técnica e para horror da ética.
A terceira nuvem é o trágico fracasso intelectual em formular alternativas aos rumos do projeto civilizatório. Depois de termos confiado na democracia e no estado para a condução da utopia, percebemos que o estado é autoritário e a democracia é incapaz de combinar as exigências do mundo global com as demandas isoladas de cada nação.
Os avisos dos redatores do Clube de Roma foram recusados pelo pensamento liberal de direita, que dizia que o mercado teria a solução, e pelo pensamento intervencionista da esquerda, que dizia que a inteligência técnica e política venceriam. A direita desprezava os avisos de crise ecológica, a esquerda via neles uma conspiração contra os países pobres.
Quando a catástrofe chegou, os pensadores ficam mudos. Ainda mais porque os liberais perceberam que o resultado de sua utopia e da extrema riqueza convive com um Gulag Social de prisioneiros – recusados nas fronteiras, pobres abandonados à própria sorte, desempregados, doentes sem atendimento, crianças desnutridas, mães sem leite para os filhos – e os esquerdistas percebem que, ao lado do fracasso das experiências socialistas e da vitória homérica do capitalismo, as bases do seu pensamento estão fracassando.
Nesse quadro, a história caminha e conduz a um desastre. Como se adiante houvesse a ameaça de um grande meteoro, produzido pela própria humanidade, pronto a explodir. O primeiro passo para vencer as ameaças é superar a falta de uma proposta intelectual capaz de enfrentar as outras duas tragédias. O segundo passo é desenhar uma nova utopia, e as bases para uma nova revolução. Mas os intelectuais perplexos e acomodados não oferecem propostas, e os militantes acomodados abandonaram as bandeiras.
Esta é a pior das nuvens: a nuvem seca, que não chove, e encobre silenciosamente qualquer alternativa.
Escrito por: Gabriel Reis - gabriel.reis@senado.gov.br
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