O Ministério da Educação (MEC) aposta na concessão de auxílio financeiro para resolver dois problemas bem diferentes. O primeiro é de base: o alto número de analfabetos com mais de 15 anos de idade. O outro está na ponta de cima do sistema educacional: o aproveitamento dos professores doutores dentro do país.
O ministro Fernando Haddad afirmou nesta quinta (22/03), no programa de rádio Bom Dia, Ministro, da Radiobrás, que o MEC irá oferecer uma bolsa para estimular professores da rede pública de ensino a alfabetizarem jovens e adultos em turnos contrários ao do trabalho, e outra para que doutores recém-formados continuem suas pesquisas. O anúncio da “bolsa-professor” ocorre uma semana após Haddad ter dito que o governo estaria preparando a concessão de um auxílio financeiro para incentivar os jovens a se manterem na escola.
A medida voltada para a alfabetização pretende reestruturar o programa Brasil Alfabetizado, que o próprio Ministério reconhece estar aquém das expectativas: a taxa de analfabetismo de pessoas com mais de 15 anos no país não está caindo no ritmo que o governo esperava. O programa já em andamento capacita pessoas — professores ou não — para ensinarem adultos a ler e a escrever, mediante o pagamento de uma bolsa de R$120 reais, mais R$ 7 por aluno em sala de aula. A intenção é que o programa tenha 80% de alfabetizadores vindos da rede pública e 20% de outros setores.
De acordo com Haddad, o objetivo da “bolsa-professor” é atingir o Nordeste, onde a taxa de analfabetismo entre os adultos é cinco vezes maior do que a média das outras regiões. “Temos que mudar o desenho, atender especialmente o aluno do campo”, disse. Segundo o MEC, o valor da bolsa para os professores ainda não está definido. Mas sabe-se que precisará haver uma mudança na legislação para que a medida entre em funcionamento, já que funcionários estaduais e municipais não podem receber dinheiro da União.
Também não está definido o valor da bolsa que será oferecida aos pós-doutorandos. Só no ano passado, o Brasil formou 10 mil doutores. A preocupação do MEC é evitar que uma parte dessa massa crítica vá trabalhar no exterior ou exerça atividades não relacionadas com a área que estudou. A previsão é de que o auxílio financeiro comece a ser oferecido este ano. Cada doutor só deve receber a ajuda por cinco anos.
O presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do MEC, Jorge Guimarães, estima que os programas de pós-doutorado existentes hoje atendam a, no máximo, duas mil pessoas. “Ainda não precisamos nos preocupar com a evasão de doutores para o exterior. Mas estamos nos antecipando para um problema que em breve pode acontecer”, diz. O governo quer ainda estimular empresas e indústrias a contratarem doutores para o desenvolvimento de produtos e de soluções.
O representante da Associação Nacional de Pós-Graduandos André Jorge apóia a iniciativa. “É salutar que eles se mantenham atuantes e em seu país”, diz. Para o professor da Universidade de Brasília (UnB) Marcelo Hermes-Lima, a medida só irá adiar por cinco anos um problema que os doutores irão encontrar no futuro: a falta de absorção de uma mão-de-obra tão especializada.
Fonte: Correioweb
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